BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Atividades Complementares NEAD - Ráriton

Redação na comunicação - Ráriton

1º exercício de fixação
Temas: Elementos da Comunicação e funções de linguagem. Interpretação textual.

1)
A - Leia o poema “A Tecelã” de Mauro Mota:
Texto I - “A Tecelã”


Toca a sereia na fábrica,
e o apito como um chicote
bate na manhã nascente
e bate na tua cama
no sono da madrugada.

Ternuras da áspera lona
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
Às pressas tomas o banho,
tomas teu café com pão,
tomas teu lugar no bote
no cais do Capibaribe.

Deixas chorando na esteira
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita,
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia,
a carne-seca e o feijão.

De tudo quanto ele pede,
dás só bom-dia ao patrão
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação.

Ai, tecelã sem memória,
de onde veio esse algodão?
Lembras o avô semeador
com as sementes na mão
e os cultivadores pais?
Perdidos na plantação
ficaram teus ancestrais.

Plantaram muito. O algodão
nasceu também na cabeça,
cresceu no peito e na cara.

Dispersiva tecelã,
esse algodão, quem colheu?
Tuas pequenas irmãs,
deixando a infância colhida
e o suor infantil e o tempo
na roda da bolandeira
para fazer-te fiandeira.

Ai, tecelã perdulária,
esse algodão, quem colheu?
Muito embora nada tenhas,
estás tecendo o que é teu.

Teces tecendo a ti mesma
na imensa maquinaria,
como se entrasse inteira
na boca do tear e desses
a cor do rosto e dos olhos
e o teu sangue à estamparia.

Os fios dos teus cabelos
entrelaças nesses fios,
e outros fios dolorosos
dos nervos de fibra longa.

Ó tecelã perdulária,
enroscas-te em tanta gente
com os ademanes ofídicos
da serpentaria multifária.

A multidão dos tecidos
exige-te esse tributo.
Para ti, nem sombra ao menos
um pano preto de luto.

Vestes as moças da tua
idade e dos teus anseios,
mas livres da maldição
do teu salário mensal,
com o desconto compulsório,
com os infalíveis cortes
de uma teórica assistência,
que não chega na doença,
nem chega na morte.

Com essa policromia
iluminas os passeios,
brilhas nos corpos alheios.
E essas moças desconhecem
o teu sofrimento têxtil,
teu desespero fabril.

Teces os vestidos, teces
agasalhos e camisas,
os lenços especialmente
para adeus, choro e coriza.
Teces toalhas de mesa,
e a tua mesa vazia.

Toca a sereia da fábrica,
e o apito como um chicote
bate neste fim de tarde,
bate no rosto da lua.
Vais de novo para o bote.
Navegam fome e cansaço
nas águas negras do rio.

Há muita gente na rua
parada no meio-fio,
Nem liga importância à tua
blusa de operária.
Vestes o Recife, e voltas
para casa quase nua.


O poema “A tecelã” (1956), de Mauro Mota, liga-se a um momento histórico de meados do século XX. Em virtude da tardia industrialização brasileira apresenta uma mulher operária que muito labuta para pouco receber, em condições de trabalho – e de vida – mais do que precárias. MOTA empresta ao respectivo poema um ar de denúncia, sem deixar de lado um forte sentimento lírico, expresso pelo sentimento de comiseração do eu-poético em relação à personagem de que trata. De caráter cíclico, o poema começa e termina com o toque da “sereia na fábrica”, marcando o início e o fim da jornada de trabalho da tecelã. Jornada que muito cedo começa (“na manhã nascente”) e que só vem a terminar ao fim da tarde, com o apito a bater “no rosto da lua”.

EXPLORANDO O TEXTO

1) Em que pessoa do discurso está centrado o texto? Justifique com palavras ou expressões do poema.
2) Considerando o esquema dos seis elementos da comunicação e das funções da linguagem, você diria que, além da função poética, qual outra função predomina no texto? Justifique sua resposta.
3) Este poema procura mexer com a operária, despertar sua consciência ao mostrar que é ela quem transforma uma matéria-prima em produto, matéria-prima produzida por seus parentes, mas não é ela quem consome o produto. Justifique esta afirmação.
4) “Plantaram muito. O algodão
nasceu também na cabeça,
cresceu no peito e na cara”
Comente estes versos (interprete-os)


B - Leia a composição musical: Três apitos (1933) de Noel Rosa, interpretada por Tom Jobim:

Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
E está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé no agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
É que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você

a) Em que pessoa está escrito o texto? Justifique com palavras retiradas do próprio texto.
b) Aponte duas circunstâncias que distanciam o falante da destinatária da mensagem.
c) A prosopopéia (ou personificação) consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados. Aponte uma prosopopéia presente no texto.
d) Quando o poeta escreve “sou sereno”, está criando uma metonímia, ou seja, a palavra “sereno” está empregada no lugar de outra palavra com a qual mantém certa relação. Qual seria essa outra palavra?
e) “Reclame” é um galicismo, isto é, uma palavra de origem francesa. Observando o contexto, substitua a palavra “reclame” por outra, de emprego mais atual.
f) Por que o falante afirma que vai “virar guarda noturno”
g) Aponte duas situações em comum na vida da operária de “A tecelã” e da operária de “Três apitos”.
h) Além da função poética, que outras funções de linguagem podem ser percebidas no texto?



Pesquisas para elaboração de exercício:
www.moisesneto.com.br/antony.pdf (Dissertação Antony Bezerra)
Livro: Redação de Ernani Terra e José de Nicola.


2) Pesquise exemplos de ocorrência de predomínio de cada uma das funções da linguagem (emotiva, conativa, referencial, fática, metalinguística e poética) em textos publicados em jornais, revistas ou internet. Identifique a função de linguagem encontrada e justifique.

Nenhum comentário:

Postar um comentário